sábado, março 12, 2005

" Os olhos, porém...- singular capricho da Natureza, que no meio de toda esta harmonia quis lançar uma nota de admirável discordância! Como poderoso e ousado maestro, que , no meio das frases mais clássicas e deduzidas da sua composição, atira de repente com um som agudo e estrídulo, que ninguém espera e que parece lançar a anarquia no meio do ritmo musical. (...) Os olhos de Joaninha eram verdes...não daquele verde descorado e traidor da raça felina, não daquele verde mau e destingido, que não é senão azul imperfeito, não; eram verdes-verdes, puros e brilhantes como esmeraldas do mais subido quilate.
São os mais raros e os mais fascinantes olhos que há.(...)
Joaninha, porém, tinha os olhos verdes; e o efeito desta rara feição naquela fisionomia, à primeira vista tão discordante - era em verdade pasmoso. Primeiro fascinava, alucinava; depois fazia uma sensação inexplicável e indecisa, que doía e dava prazer ao mesmo tempo; por fim, pouco a pouco establecia-se a corrente magnétic tão poderosa, tão carregada, tão incapaz de solução, de continuidade, que toda a lembrança de outra coisa desaparecia, e toda a inteligência e toda a vontade eram absorvidas."



Almeida Garrett in "Viagens na minha terra"

segunda-feira, março 07, 2005

Lembro perfeitamente o dia em que foste embora,saiste de casa como se nunca mais quisesses voltar e eu,estático,não te consegui impedir!Caminhei durante dias procurando a tua sombra no meio de tantas outras sombras,procurei o teu cheiro entre tantos outros cheiros e tentei ouvir o som dos teus saltos no meio de tantos outros...em vão,tudo em vão! Fui a todos os sitios onde costumavamos ir,falei com todas as pessoas que conheciamos numa tentativa de perceber a tua atitude, a atitude da menina dos olhos lindos,das mãos esguias e suaves...Sabes que eu,como homem que sou, não deixava de reparar como o teu corpo era perfeito e como enchias os meus olhos com o teu brilho,coisas de humano! Mas a tua alma era o que me fazia gostar mais de ti,que me preenchia,que encaixava com a minha! Sei que fiz muitos erros,mas queria-te devolver a chave de casa para que possas voltar,mas quando eu estou,não quero que passes para ir buscar as tuas coisas quando sabes que não estou.
Lembro-me perfeitamente do último suspiro que deste à minha frente e de cada lágrima que derramaste por minha culpa...desculpa...era o que eu te queria dizer acima de tudo!