sábado, março 12, 2005

" Os olhos, porém...- singular capricho da Natureza, que no meio de toda esta harmonia quis lançar uma nota de admirável discordância! Como poderoso e ousado maestro, que , no meio das frases mais clássicas e deduzidas da sua composição, atira de repente com um som agudo e estrídulo, que ninguém espera e que parece lançar a anarquia no meio do ritmo musical. (...) Os olhos de Joaninha eram verdes...não daquele verde descorado e traidor da raça felina, não daquele verde mau e destingido, que não é senão azul imperfeito, não; eram verdes-verdes, puros e brilhantes como esmeraldas do mais subido quilate.
São os mais raros e os mais fascinantes olhos que há.(...)
Joaninha, porém, tinha os olhos verdes; e o efeito desta rara feição naquela fisionomia, à primeira vista tão discordante - era em verdade pasmoso. Primeiro fascinava, alucinava; depois fazia uma sensação inexplicável e indecisa, que doía e dava prazer ao mesmo tempo; por fim, pouco a pouco establecia-se a corrente magnétic tão poderosa, tão carregada, tão incapaz de solução, de continuidade, que toda a lembrança de outra coisa desaparecia, e toda a inteligência e toda a vontade eram absorvidas."



Almeida Garrett in "Viagens na minha terra"